As cenas de um policial militar perseguindo dois motoqueiros até baleá-los, em São Paulo, exibidas ao vivo em rede nacional, geraram polêmica. Tudo isso foi narrado em tom de torcida e euforia pelos apresentadores Marcelo Rezende, da Rede Record, e José Luiz Datena, da Band, na última terça-feira (23). O acontecimento pôs em dúvida até que ponto isso pode ser chamado de jornalismo e, em que momento passa a ter caráter sensacionalista.
Fábian Chelkanoff, coordenador do Curso de Jornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, comenta sobre o jornalismo popular e o sensacionalismo que, muitas vezes, são vistos como sinônimos. “O sensacionalismo tem a proposta de aumentar um fato, mesmo que ele não seja verdadeiro. Já o jornalismo popular é um formato que trabalha com a verdade, focado em serviço e entretenimento, mas sempre com conteúdos que interfiram no dia a dia das pessoas”, diferencia.
Segundo Chelkanoff, programas como os de Rezende e Datena percorrem uma linha muito tênue entre os dois lados, fazendo jornalismo em alguns momentos, mas sensacionalismo em muitos outros. “A pergunta é: por que numa perseguição como essa eu preciso mostrar alguém levando um tiro? Para mim, isso só estimula a raiva e a violência do público.” Ao afirmar isso, ele ainda menciona o Diário Gaúcho, que durante os 15 anos que percorreu até agora, tendo um caráter popular, nunca precisou mostrar fotos de mortos em suas páginas para vender mais.
A confiança que o público tem nos jornalistas é a peça-chave. Não é papel dos veículos de comunicação dizer o que deve ou não ser feito. No momento em que uma figura influente como Marcelo Rezende grita “Fez muito bem em atirar” ele dá razão à violência e julga como correta a atitude do policial militar. “A função jornalística é investigar os fatos e mostrá-los da maneira mais ampla possível para que as pessoas tenham a possibilidade de tirarem suas próprias conclusões. O apresentador, ao tomar partido na situação, fez exatamente o contrário do que deveria”, afirma Chelkanoff.
O tipo de programa em que foram mostradas as imagens se baseia muito no senso comum, que nem sempre é o mais correto. Eles procuram seguir o pensamento da maioria, não importa para que lado aponte. “O que eles fazem é uma luta pela audiência, não jornalismo”, completa Chelkanoff.