“Tenho que pensar em tantas coisas que às vezes acabo não pensando em nada”. Essa é a publicitária Cláudia Tajes, que não perde o bom humor nem mesmo quando fala de sua agitada rotina. Haja fôlego para pensar em tudo: ela é redatora, escritora, roteirista e ainda encontra tempo para participar do Sarau Elétrico e manter uma coluna quinzenal na Zero Hora. Mesmo com a agenda cheia, ela esteve na Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS, nesta quarta-feira, primeiro de setembro, para participar da quarta edição do Papo Exp.
Cláudia conversou sobre sua carreira com alunos do Espaço Experiência. O início de sua trajetória na comunicação já é diferente da maioria: sem ter se formado nem em jornalismo, nem um publicidade – embora tenha cursado um pouco de ambos –, ela entrou para uma agência publicitária graças aos seus textos, que agradaram ao diretor de criação. “Isso foi em 1985, e as coisas eram muito diferentes”, explica. “Hoje é impossível entrar no mercado sem um portfólio com, no mínimo, os trabalhos feitos na faculdade”, ressalta.
Sempre trabalhando como redatora, Cláudia conta que começou a fazer “publicidade inovadora, que a gente se orgulha” quando entrou na agência Nova Forma. Lá, foi responsável pela propaganda de uma rede de motéis, que usava frases bíblicas em seus anúncios. Para a época, algo muito polêmico. “Com 20 anos, a gente escreve um palavrão em um outdoor e acha que salvou a pátria”, brinca.
Ficando mais reconhecida, entrou para a DCS, uma das maiores agências de publicidade de Porto Alegre. Está lá até hoje, ora fazendo campanhas para grandes empresas, ora escrevendo cartões para o Papa e o Nelson Mandela – a pedido de algum cliente, claro. Ela tem tantas histórias para contar que não é surpresa que faça sucesso também em outra carreira: a de escritora.
Com sete livros publicados, “três medonhos e quatro mais ou menos” como qualifica a própria escritora, Cláudia conquistou um enorme número de leitores com histórias cômicas, em sua maioria sobre mulheres com vidas complicadas. “Acho mais legal escrever sobre o que dá errado”, conta. Seu livro de maior sucesso até agora, A Vida Sexual da Mulher Feia, foi publicado em oito países e aguarda uma adaptação para o cinema, juntamente com Vida Dura (cujo protagonista será, ao que tudo indica, Lázaro Ramos). Outra obra, Louca Por Homem, tornou-se uma minissérie da HBO e seu último trabalho, Só as Mulheres e as Baratas Sobreviverão, foi adaptado para o teatro.
A respeito do sucesso de suas histórias em outros meios, Cláudia explica: “Não existem roteiristas para escrever diretamente para os diretores, então eles ficam garimpando nos livros”. Ela fala que a profissão de roteirista é uma ótima alternativa para quem gosta de escrever, pois há muita demanda e pouca gente preparada para realizá-la. Nesta área, a publicitária já trabalhou ao lado de nomes como Jorge Furtado, Fernando Meirelles e Daniel Filho.
Quando questionada sobre as atividades do Espaço Experiência, seu caráter multidisciplinar, Cláudia disse que “nas agências, ainda se pensa muito com a cabeça de publicitário”. Ela explicou que há uma dificuldade em, por exemplo, manter dentro da própria empresa uma assessoria de imprensa: “esse contato traria muito benefício. Na publicidade, por exemplo, só se tem referência de publicidade”, diz. “Todo mundo sabe quem foi premiado em Cannes, mas ninguém sabe o básico de conhecimentos gerais”, comenta.
Em relação às novas tecnologias, Cláudia assume: “sou do tempo de Gutenberg, curto um anúncio”, brinca. As idéias, para ela, ainda são mais importantes do que a maneira de veiculá-las. Ao ser indagada sobre o futuro da publicidade ela aconselha: “deverá ser tratá-la de maneira divertida, como forma de entretenimento”. O que não parece ser uma tarefa difícil para Cláudia Tajes.