Descontração, solidariedade e música. Esse foi o clima de uma das últimas palestras do 24º SET Universitário, a partir do tema: “Mudanças na sociedade: a comunicação na periferia”. O evento ocorreu na manhã, desta quarta-feira, 14 de setembro. Preto Zezé, presidente nacional da Central Única das Favelas (CUFA), e Aline Custodio, repórter do Jornal Extra, discutiram sobre a comunicação comunitária e igualdade social.
Zezé iniciou a palestra com uma visão histórica sobre o país. Ele acredita que o Brasil já nasceu de vários crimes – como, por exemplo, os saques dos recursos naturais, a escravidão e o tráfico negreiro. “O Brasil, antes de tentar resolver o problema da violência, tem que se resolver como nação”, garante. Zezé também mostrou-se preocupado com a forma como a mídia expõe as favelas brasileiras: “elas só aparecem nos cadernos de polícia do jornal. E o pior: os moradores são sempre caracterizados de forma pejorativa”, explica. Para finalizar sua fala, mostrou um clipe de rap, de sua produção, sobre o tráfico.
Após o choque de realidade trazido por Zezé, a jornalista Aline Custódio falou sobre seu envolvimento com o jornalismo popular. Em slides mostrou trabalhos que marcaram sua vida, como a cobertura do Caso Juan. Para ela, os jornais populares tendem a acrescentar muito às classes C e D. “Sou de uma família da periferia de Guaíba. Quando surgiu o Diário Gaúcho eu percebi que a leitura se aproximou daquele público, por ser uma visão mais simples e dinâmica dos fatos”, comenta.
Além disso, a jornalista considera-se uma caçadora de personagens: “trabalho em um jornal popular e trabalhamos através de uma técnica: queremos dar bons exemplos aos leitores através de pessoas reais e próximas deles. Sou completamente apaixonada por esse tipo de trabalho. Cada personalidade nova que encontro me conduz para uma nova realidade.”
O público, contagiado pela alegria e pelas histórias contadas pelos palestrantes, participou ativamente da palestra, fazendo muitas perguntas. Entre elas, a questão do jornalismo no país foi comentada, e Zezé foi veemente: “tem muitos lugares no Brasil que ainda estamos vivendo no feudalismo: sem estrutura, saneamento, etc.”
A palestra foi finalizada musicalmente. Preto Zezé fez um rap improvisado para os espectadores; logo após, Preta Ivonete também cantou, alegrando o público, e deixou lições de vida: “Nós, do CUFA, somos um movimento adaptável. Buscamos a igualdade social. Meu jovem deve ter as mesmas condições de ensino do que a os filhos da minha patroa. O sangue que corre nas veias pobres é o mesmo que corre nas ricas”.