Segundo a analogia proposta pelo escritor argentino Júlio Cortázar (1914-1984), um dos mais influentes nomes da literatura latino-americana do século XX, a arte de escrever, particularmente no caso dos gêneros romance e conto, é passível de ser comparada ao boxe. O ponto em comum se situaria na questão estratégica, em como se obter sucesso no texto: no romance, vagaroso, arrastado, a vitória vem por pontos. Já no conto, ágil, quase fugaz, se ganha por nocaute. Com intensidade, portanto. No universo do cinema, esta característica é imprescindível aos curtas-metragens, que pela reduzida duração, possuem um ritmo bastante peculiar. O curta-metragem Limbo, do ex-aluno da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) Fernando Mantelli, é exibido no projeto Curta um Conto nesta quarta-feira (22), às 18h, na Arena da Faculdade de Letras, prédio 8, sala 222. A atividade vale como horas complementares. O curta foi inspirado no conto Visor, do escritor norte-americano Raymond Carver.
Há discordância na definição de quantos minutos um filme nesse formato pode possuir. De acordo com as normas da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, organização norte-americana que, entre outras coisas, concede anualmente o Oscar, um curta deve ter até 40 minutos. Contando com os créditos. No Brasil, a letra fria da “Lei do Curta” estabelece um limite menor: não mais do que 15. O dicionário Houaiss, que não regulamenta nada, mas serve como instrumento de ilustração de conceitos, ideias e assuntos, diz que tal modelo de película não deve se prolongar mais do que meia-hora.
Seja como for, existe um projeto em Porto Alegre que reúne cinema e literatura e que não está exatamente preocupado com essa discussão de tempo. O “Curta um Conto”, organizado pelo Núcleo de Pesquisa Interdisciplinar de Literaturas em Língua Portuguesa da Faculdade de Letras da PUCRS, existe desde 2011 sob a coordenação dos professores doutores Paulo Ricardo Kralik e Ricardo Barberena, que destacam os esforços conjuntos de consultoria e mediação de Camila Gonzatto e Luís Roberto Amabile, respectivamente.
A ideia, basicamente, é o intercâmbio das duas expressões de arte, através da exibição de curtas-metragens que sejam baseados em histórias literárias. Por questões de narrativa, contos costumam ser o objeto de inspiração. Conforme Kralik, a iniciativa mantém o foco nas produções locais e apresenta uma receptividade positiva, tanto do público, quase sempre formado por estudantes de diferentes campos, quanto do próprio pessoal que mostra seu trabalho. A sistemática do projeto começa com a leitura de trechos da obra referência. Logo após, o curta é exibido e ocorre um debate sobre ele. Segundo Kralik, os alunos têm a oportunidade de questionar como ocorreu a adaptação do conto à linguagem cinematográfica. Isso é interessante também para quem exibe o filme, que pode esclarecer as soluções narrativas de cada etapa”, avalia. Cerca de 15 curtas-metragens já foram expostos nos últimos três anos, e, atualmente o ritmo é de uma apresentação por semestre.