Sob o tema “o impacto das tecnologias digitais no cotidiano das redações”, Ana Estela de Sousa Pinto, editora de treinamento do jornal Folha de São Paulo, ministrou a aula inaugural do curso de Jornalismo Digital. Ana Estela conversou com os alunos acerca de mercado de trabalho, qualificações necessárias para ser um bom jornalista e sobre o recente processo de integração entre as redações on-line e impressa da Folha. A palestra aconteceu na última sexta-feira, 23, no Auditório da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS.
Embora ainda seja uma incógnita até mesmo nos EUA – onde já existe desde a crise dos jornais impressos em 2006 – o jornalismo digital tem qualidades latentes. “Há uma possibilidade de cobrir acontecimentos em um tempo real mais completo em relação ao que se tinha até agora”, afirmou a jornalista. O serviço permanente que a internet proporciona na busca de informações e a interatividade também foram destacados. “Mas não é só interação por interação, conversa jogada fora, é também o serviço público, que é a essência do Jornalismo”, ressaltou. Entretanto, Ana Estela ressalvou que, ao menos por enquanto, a nova mídia não consegue se sustentar com publicidade, além de ser “mais fácil de deixar escapar a informação, pela forma como é apresentada”.
A responsável pelo treinamento e seleção da Folha também apontou o surgimento de novas funções, como o mojo, o jornalista móvel. “É o cara que não só vai lá, filma e volta. Ele nem volta para a redação. Vai com computador e internet e manda todo o material dele para a rua”, explicou. A portabilidade dos meios digitais permite o recolhimento e o tratamento de texto, áudio e vídeo no próprio local e a internet móvel facilita o envio e a publicação da informação.
Num segundo momento, a palestrante explicou em detalhes o processo de integração entre as redações on-line e impressa da Folha: “Até dezembro de 2009, as redações eram totalmente separadas, uma no 4º andar do prédio e a outra no 6º. Eventualmente uma redação publicava uma notícia da outra, mas trabalhavam como se fossem veículos independentes. O primeiro passo foi a integração física das redações – agora no mesmo andar – mas ainda com chefes e rotinas diferentes. Depois, veio a integração orgânica, com todos respondendo à mesma chefia de redação. Em vez de duas estruturas, agora se tem uma só Folha, com conteúdo publicado ou no impresso ou no on-line. E todos passam a responder à mesma direção de redação. (…) O que a Folha fez, foi submeter o conteúdo on-line ao poder de edição do conteúdo impresso”.
Entre as qualidades indispensáveis a um jornalista, a palestrante destacou o ecletismo. “Apesar de a internet agrupar várias plataformas, os outros veículos continuarão existindo. O jornalista que souber trabalhar em diferentes meios sairá ganhando.”, sentencia. Não satisfeita, Ana vai além: “acho que ainda vai ter profissão pra todos nós por muito tempo”.