“Por que as pessoas colocam a palavra investigativo ao lado de jornalismo?”. Foi com essa indagação que Isabel Vincent iniciou sua palestra nesta quarta-feira (12) na Faculdade de Comunicação Social (Famecos). Para a jornalista canadense, a investigação faz parte da profissão. Não é uma área do jornalismo. Repórter do jornal New York Post, Isabel falou sobre sua carreira e o jornalismo que se pratica hoje nos Estados Unidos.
Na década de 90, Isabel veio trabalhar no Brasil como correspondente do The Globe and Mail, do Canadá. Durante sua passagem pelo país, investigou o caso do sequestro do empresário Abílio Diniz. Dois dos sequestradores eram canadenses, e no país natal eles eram tratados como ingênuos que foram ajudar pessoas pobres no Brasil. Isabel teve acesso ao documento oficial do crime e descobriu que a imagem que os jornais de seu país divulgavam sobre os jovens distorciam a verdade. A repórter produziu matérias afirmando que eles participaram ativamente do crime. Essa crítica aos colegas canadenses motivou a jornalista a procurar novos rumos. Depois de 20 anos de uma carreira consolidada, mudou-se para os Estados Unidos.
A jornalista valorizou muito o fato de atuar fora do Canadá. “Posso ver as coisas de um modo diferente. Gosto disso”. Isabel contou do famoso caso em que revelou que um congressista norte-americano não havia declarado uma casa na República Dominicana. A repórter viajou ao país e ficou uma semana seguindo o político. Mais tarde, denúncias revelaram que ele ainda estava envolvido em outros casos ilegais, como viagens bancadas por lobistas. Pela matéria, Isabel foi indicada ao Prêmio Pulitzer, porém não venceu. Segundo a canadense, o New York Post é um jornal bastante agressivo. Às vezes, ultrapassa o limite e é sensacionalista.
A importância dos documento públicos para o trabalho do jornalista foi ressaltado pela repórter. “É fundamental saber ler e interpretar esses documentos, pois são boas fontes”, afirma. Porém, para Isabel, a melhor fonte de informação é uma fonte federal. A jornalista condenou as perguntas complexas, nas quais os repórteres querem mostrar ao entrevistado que sabem tudo sobre o assunto. “As melhores são as bobas. São aquelas que ninguém pergunta por vergonha”, ensina. Isabel terminou criticando o caso das biografias não autorizadas no Brasil. Segundo ela, as autorizadas não são jornalismo. São propaganda.