Depois de A Extinção da Primeira Pessoa e Sveglia, que recebeu menção honrosa no Prêmio SESC 2009, Edson Migracielo lança o seu terceiro livro: Novo Corpo Amoroso. O lançamento, realizado pela Outr&m Editorial será na próxima terça-feira (14), a partir das 19h, na Palavraria – Livros & Cafés (Rua Vasco da Gama, 165). O livro de 253 páginas narra em prosa poética a aventura lírica de uma socialização por deslocamentos, reconhecendo aspectos ora metafísicos, ora contemporâneos do mundo interior amoroso e paraficcional que habita o coração do homem. O jornalista e ex-Famequiano disponibilizou um trecho de Novo Corpo Amoroso:
“Os trens partiam. Fui comprar minha passagem mas o bilheteiro alegou que o idioma dos trens já tinha sido interditado e por isso já não poderia me vender ingressos para aquele trajeto. Perguntei qual era o nome do trajeto em cartaz, ao que seus lábios tremeram numa convulsão, e depois o corpo todo dele como que se trincou sem dizer nada. Não insisto: não tenho as perguntas programadas. Me afasto do guichê e olho, é preciso dizer que um pouco desolado, para os braços abertos de um relógio atravessando as horas. Será que vou ter que pedir carona? Nisso um homem se aproximou e disse que para quem perdia o trem havia sempre a opção de viajar de ônibus: a estrada fica logo ali, é só sair da estação. Ele tirou um olho da órbita e colocou na palma da minha mão. Minha mão sou eu? Eu sou o amor: dentro de mim ele verá. Depois o homem se afastou. Eu já tinha terminado meu cafezinho. Fui até um telefone público mas não telefonei para ninguém. Apertei o telefone contra o ouvido e ouvi o sinal de discagem: isso também era uma dança? O pulso da máquina solitária ao meu ouvido não me incomodava, fiquei ali de pé com o telefone no ouvido esperando para ver se alguma comunicação acontecia. Eu não queria simplesmente manipular os números: telefone respira. Eu tinha perdido o trem, e agora? O cego apontou a porta giratória. Ele disse: a saída. Depois o homem se afastou. Era cego e se afastou depois de me mostrar uma saída aparente, uma possibilidade. Era estranho: mediante sua órbita esvaziada, era como se um umbigo tivesse recém nascido na cara do cego! Para ver mais?”.