Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência da Famecos realizou a 2ª edição do Projeto 18/34 (Foto: Natalia Pegorer)
O Núcleo de Tendências e Pesquisa do Espaço Experiência da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS realizou a 3ª edição do Projeto 18/34, que investigou as ideias e aspirações da Geração Y sobre conceito de família. Conforme o estudo, o jovem possui uma visão mais prática e pragmática sobre as funcionalidades da família, servindo como forma de facilitar a logística da vida. Ainda que tenha tendência mais tolerante com as diferenças, aspira estruturar uma família tradicional, mas menor que a dos seus ascendentes, podendo gerar, no futuro, uma geração de pais mais velhos com poucos filhos. Essas são algumas das conclusões do projeto, que ouviu 1.500 jovens de todo o país entre 18 e 34 anos, proporcionalmente divididos por regiões.
Baseado na pesquisa Novos tipos de famílias (2010), os estudantes que integram o Núcleo de Tendências e Pesquisa, coordenados pelo professor da Famecos Ilton Teitelbaum, selecionaram sete dos 24 formatos de família como ponto de partida para a pesquisa. Foram considerados Família Díade Nuclear (pai e mãe), Família Nuclear ou Simples (pai, mãe e filhos), Família Alargada ou Extensa (pai, mãe, filhos, avós etc), Família Reconstruída, Combinada ou Recombinada (pai, mãe, filhos e enteados), Família Homossexual Feminina e Masculina, Família Monoparental Feminina e Masculina (pai e filho ou mãe e filho) e Família Unitária (única pessoa).
A etapa de investigação qualitativa fez o levantamento com nove famílias constituídas e nove jovens. Foram constatados que os diferentes formatos são vistos com maior naturalidade pela Geração Y, além de enfatizarem a liberdade de escolha. No entanto, existe uma maior resistência quanto ao formato homoafetivo em ambos os grupos. A maior responsável pela formação dos valores e influências nas escolhas dos jovens é a família de origem. A religião é um fator de influência quase nulo, uma vez que as crenças não são praticadas. O professor Teitelbaum afirma que o jovem tem uma leitura prática de família. “É uma visão projetiva, muito mais que uma autoanálise. Essa é uma geração mais conservadora do que se poderia imaginar”.
Comportamento
A maioria (59,7%) dos jovens brasileiros ainda mora com os pais. A pesquisa apontou que em todas as regiões o vínculo domiciliar à família é predominante. No geral, sua ocupação é apenas estudar (61,93%), enquanto 36,4% exercem algum tipo de trabalho. As atividades por região se assemelham, pois as cinco principais são voltadas à tecnologia: acesso às redes sociais (72,7%), ouvir música (65,5%), buscar informações na internet (47,6%), assistir à televisão (25,3%) e games (21,2%).
No Sul e no Sudeste, o interesse em games (24,3% e 22,9%, respectivamente) é maior e há menor interesse na busca por informação (42,7% e 44,8%) comparado a outras regiões. A maior busca por informações está nas regiões Centro-Oeste (51,3%), Norte (56,3%) e Nordeste (50,8%). Os itens menos utilizados são rádio (3,2%), assistir à televisão (25,3%) e ler jornal/revista (8%).
Formatos de família e religião
Em um país laico, a pesquisa mostrou que o catolicismo é a crença com mais adeptos (34,3%). Se forem somados os resultados de ateísmo (19,3%), agnoticismo (6,2%) e fé sem religião (6,7%), totalizam 32,14%, ou seja, quase 1/3 dos representantes. No Nordeste, há mais católicos; no Norte, mais evangélicos; e no Sul e Sudeste os ateus estão mais presentes do que em outras regiões do país.
Para 81,1% dos jovens de todas as regiões, o conceito de família é fundamental ou muito importante. A maioria (47,5%) declara que seus valores vêm igualmente da criação em casa e da vivência com outras pessoas, enquanto 37,2% acreditam que vêm principalmente de casa. Os pais são os mais influentes nas decisões da Geração Y (31,3%), seguido por namorado(a) (10,1%).
Nesta geração parece que a luta contra o preconceito gera resultados. Quando perguntados sobre qual formato de família menos agrada, a resposta nenhuma (61,5%) é predominante. Porém, entre as alternativas, as famílias homoafetivas (17,3%) ainda têm a maior rejeição. As justificativas para a escolha variam entre: por não ser ideal para a sociedade (56,2%); por questões religiosas (53,9%); por tradição familiar (42%); por leis reprodutivas (38,9%); e por dificuldade de aceitação (22,3%).
Independentemente da orientação sexual, foi solicitado aos jovens que respondessem se as figuras paterna e materna estão vinculadas ao gênero. Segundo a pesquisa, em todas as regiões qualquer pessoa pode representar as duas figuras (52,9%). A declaração de que o pai e a mãe devem representar essas figuras (24,2%) vem logo depois. Ao serem questionados sobre as tarefas que devem ser desempenhadas pela mãe ou pelo pai, a resposta mais recebida foi a de que ambos poderiam realizar qualquer uma. Contudo, lavar roupa, cozinhar e arrumar a casa foram atos que ficaram ligados à figura feminina. As atividades de trabalhar e sustentar a família, ter autoridade, cuidar do jardim e fazer consertos e reparos em casa foram associadas à figura masculina.
Futuro
O casamento ainda é um desejo da Geração Y. Com 39,2%, a união civil e religiosa é o tipo que predomina no que se refere à relação que gostaria de ter. Logo depois, está a união civil (24%), seguida da união estável (16,9%). Para ter filhos, a pesquisa aponta que os jovens declaram ser necessário ter estabilidade financeira e emocional, ser maior de idade e não depender dos pais. Em todas as regiões, a preferência é por um ou dois filhos, enquanto 17,1% dos respondentes não pretendem ter. Isso pode formar uma geração de pais mais velhos e/ou com poucos filhos, tendência de países como Japão e do continente Europeu. Financeiramente, os jovens ambicionam ganhar o bastante para ter pequenos luxos (43,20%) e para se sentir confortável (43,07%). As regiões que visam acumular mais riquezas são Sul (43,58%) e Sudeste (44,92%).
A primeira edição do Projeto 18/34, divulgada em 2013, constatou que 66% tinham como maior objetivo conhecer o mundo. A edição deste ano mostrou que esse sonho de vida não mudou. A maioria (72,9%) tem o desejo de viajar pelo mundo para conhecer outras culturas. Atrás, está ter uma boa formação na faculdade (55,6%). Somente 5,5% declararam ter como objetivo se dedicar totalmente ao trabalho.
Confira o vídeo que explica a pesquisa: