O 22º Set Universitário foi oficialmente aberto nesta segunda-feira, 28 de setembro, no Auditório da Famecos, com a palestra de João Moreira Salles. O documentarista e editor da revista Piauí falou sobre a sua trajetória profissional, contou detalhes sobre a história recente de sua publicação e falou sobre seus documentários.
Criada em 2006, a Piauí nasceu de uma ideia do próprio Salles, de ler uma revista com textos longos, ao melhor estilo jornalismo literário. Sem formação jornalística, o cineasta buscou profissionais com experiência para a concretização do projeto. A redação da Piauí é constituída assim, de uma mescla de experiência e juventude.
A revista se diferencia de uma maneira muito peculiar das demais publicações da imprensa em geral. Não há colunistas. Mera opinião é considerada pobre pelo editor. Não são feitas reuniões de pauta nem existem editorias pré-definidas. A edição vai se moldando a partir do material pronto. “Não há regras. Nosso leitor deve estar disposto a surpreender-se”, diz Salles. A organização se dá a partir do fato de que todos podem propor matérias sobre qualquer tema. “É uma revista invertebrada. Nunca sabemos o que vamos encontrar em seu interior”, salienta.
Salles preza muito pela saída do repórter para a rua. “Reportagem da Piauí jamais terá dados coletados no Google”, afirma. A parte da edição é feita de forma criteriosa. O idealizador do projeto ressalta que os textos jamais devem ser editados de forma que sejam publicados conforme um padrão pré-estabelecido. Deve haver variedade e versatilidade.
O processo de encontro do público foi muito rápido, segundo o editor. Após a identificação, não houve mais crescimento. “Nosso público é fixo e fiel”, garante. A dificuldade é saber quem é realmente este público. “O anunciante precisa saber para quem está divulgando, mas nós não sabemos para quem escrevemos. A leitura da Piauí envolve a formação do espírito. Portanto, é difícil estabelecer a segmentação correta dos leitores”, expõe Salles.
Na segunda parte da palestra, o tema recaiu sobre o documentarista Salles. Segundo ele, seus documentários tiveram influências maiores de textos jornalísticos do que de filmes. As diferenças e semelhanças entre documentário e jornalismo também foram abordadas. “No documentário, as pessoas filmadas são reais. Existe essa relação com a verdade. Não é ficção”, diz o cineasta. No entanto, ele ressalta que o documentário não é um retrato da realidade. A mentira não é proibida. “O jornalismo e o documentário possuem muitas semelhanças, mas também imensas diferenças. Não faço documentários para dar informação, apenas. Eles envolvem o lado emocional”, conclui João Moreira Salles. O 22º Set Universitário foi aberto em grande estilo.
Entrevista com João Moreira Salles:
SET UNIVERSITÁRIO: Você disse que a Piauí nasceu de um desejo próprio de ler algo parecido com o jornalismo narrativo, em português. Você esperava encontrar tanta gente com esse mesmo desejo?
Salles: Essa era a grande dúvida, eu tinha a intuição de que havia gente querendo ler algo do tipo, órfãos deste tipo de informação. O problema era quantificar esse público. Tanto que agora temos só 35 mil leitores. É bom, mas ainda acho que pode melhorar. O público que mais cresce está nas universidades, porque as pessoas mais jovens estão mais dispostas a se deixarem surpreender e não buscam algo tão utilitário.
SET: A revista tem uma cultura informal, como você mesmo afirmou, por seguir uma liberdade editorial. Não tem colunistas nem reuniões de pauta, por exemplo. Essa liberdade traz algum aspecto negativo?
Salles: O número ainda pequeno de leitores é um aspecto negativo. Se fizéssemos uma revista segmentada, sobre saúde da mulher, por exemplo, com certeza teríamos muito mais leitores. Mas este não é nosso objetivo.
SET: Algum projeto em andamento, algum documentário?
João Moreira Salles: Não, só a revista. O foco agora é a Piauí.
Veja o depoimento de João Moreira Salles sobre a revista Piauí: