Cid Martins (com o microfone) fala ao lado de Vilson Romero, Celso Schröder e Luiz Adolfo Lino de Souza (Foto: Marcos Westermann)
Mostrar o perigo das coberturas jornalísticas e os cuidados que o profissional deve tomar em determinadas situações. Com esse intuito, o Auditório da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS recebeu, na manhã dessa segunda-feira (4) a palestra Quando o jornalista é o alvo, que integra a Semana Hipólito da Costa, promovida pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Participaram do evento o diretor do departamento de Direitos Sociais e Imprensa Livre da ARI, Vilson Romero, o presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e professor da Famecos, Celso Schröder, e o repórter da Rádio Gaúcha Cid Martins. A mediação ficou por conta do também professor da Famecos e vice-presidente da ARI, Luiz Adolfo Lino de Souza.
O jornalista Vilson Romero usou seu espaço na palestra para mostrar o Tambor da Aldeia, blog feito pela ARI que noticia uma vez por semana processos, ameaças e atentados envolvendo jornalistas do mundo. Mostrou o site Repórteres sem Fronteiras e o número de jornalistas mortos e presos desde 2002. Depois, Romero defendeu a liberdade de imprensa e a segurança que qualquer empresa jornalística deve oferecer ao profissional. “Temos que fazer valer o livre exercício de um jornalista sem deixar a segurança de lado”, observou.
Celso Schröder concorda com Romero e destaca a liberdade de imprensa com a qual o jornalista brasileiro experimenta neste momento. No entanto, alerta para o crescimento da violência contra o profissional de imprensa. “Não há dúvidas de que estamos vivendo a liberdade de imprensa, mas, ao mesmo tempo, há um preocupante aumento na morte de jornalistas”. No ano passado, seis jornalistas brasileiros foram mortos, num total de 66 no mundo inteiro. O professor ressaltou que o profissional tem a obrigação de solicitar recursos para seu empregador. “Nossa profissão, assim como outras, tem riscos. Por isso, precisamos usar artifícios a nosso favor”, declarou Schröder, que falou ainda sobre a criação de uma ferramenta em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos para investigar crimes contra jornalistas.
O repórter Cid Martins já passou por duas situações de risco: em 2006, nos atentados do PCC, em São Paulo, e em 2010, no processo de pacificação do Morro do Alemão, no Rio. Na primeira, o repórter foi a uma coletiva da Secretaria de Segurança para saber dos riscos e acabou pedindo para acompanhar repórteres paulistas, um forma de, segundo ele, se sentir mais seguro. Em 2010, numa cobertura ainda mais tensa, Martins, depois do retorno a Porto Alegre, pediu à Rádio Gaúcha que pagasse a ele um curso de guerrilha ministrado pelo BOPE, no Rio, e solicitou a compra de coletes à prova de balas de alta qualidade, diferente do que havia usado na operação. “Eu pedi porque precisava desse preparo e dos recursos. Todo profissional deve fazer o mesmo”, sugeriu.
Ao final do evento, Martins declarou que a preparação é básica para quem quer participar desse tipo de cobertura. E reforçou a premissa de que cada jornalista deve saber até onde pode ir. “Mas qualquer um também tem o direito de dizer não”.