“Só estando lá e vendo para entender”. É assim que o professor de Fotojornalismo da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) Elson Sempé descreve a situação da República Democrática do Congo, no continente africano. Convidado por um amigo, o jornalista Kaiser Konrad, para registrar as atividades das forças armadas uruguaias no país, Sempé permaneceu seis dias na cidade de Goma, na região da fronteira com Ruanda e Sudão. Mais do que um relato fotográfico, ele trouxe na bagagem uma insólita experiência de vida.
Situada na província de Nord-Kivu, uma das mais ricas em recursos minerais do país, Goma se encontra em situação de tensão desde 1994, sob ameaça do grupo rebelde M23. “Existem três conflitos no Congo. O étnico, por circunstâncias históricas, o político, pelo controle militar, e o econômico, pelas reservas de columbita, essencial para a indústria de tecnologia”, destaca o professor.
No continente africano sob custódia da Organização das Nações Unidas (ONU), Sempé se hospedou em uma das bases do exército uruguaio na cidade, a 40 quilômetros das instalações das tropas rebeldes. Responsáveis por impedir que a população seja atacada, os militares realizavam três patrulhas ao dia, trazendo o mínimo de segurança aos congoneleses.
As expedições por Goma permitiram que o fotógrafo tivesse contato direto com os habitantes e compreendesse melhor o clima na região. “A estrutura é muito precária, sem saneamento básico, sem higiene. Os lojistas utilizam geradores elétricos, e os mais pobres, lamparinas, para a iluminação à noite”, afirma. Além disso, a cidade é localizada ao lado do vulcão Myiragongo, ainda ativo. “Há dez anos, houve algumas erupções. Tudo foi reconstruído sobre a lava”, observa Sempé.
Ainda assim, os equipamentos utilizados pelo fotógrafo – Sempé vestia sempre capacete e colete à prova de balas – a companhia dos militares e a dinâmica das patrulhas impuseram dificuldades na hora de registrar as imagens. “Não podíamos parar com frequência. O pessoal não gosta muito da câmera, pede dinheiro para posar. A presença de um sujeito armado também tira a naturalidade. Fotografar assim é restrito”, analisa. A insegurança só era quebrada quando Sempé dizia que era brasileiro: “Falavam do Pelé, do Ronaldinho e abriam um sorriso. Adoram o Brasil”.
Se a população adulta mostrou receio e resistência à presença dos visitantes, o carinho e a curiosidade das crianças tocaram o fotógrafo. “Elas te cercam, riem, conversam, vêm te ver de perto, puxam os pelos do braço. É inusitado”, revela.
O fotógrafo vê como principal aprendizado da viagem as imagens que ele não conseguiu registrar. “ Quando enxergava o momento, ele já tinha passado. Para fotografar, não basta o equipamento, tem de estar inserido na situação”, diz. Animado, não descarta voltar ao continente africano sem ter vínculos com organização alguma. “Tenho vontade, mas não tenho planos. A mão-de-obra é muito grande, há muitas questões burocráticas, e a estrutura não é confiável”, conclui.
A matéria sobre a atividade das tropas uruguaias será publicada em uma edição especial da revista Tecnologia e Defesa, prevista para abril de 2013. Confira os cliques de Sempé no Congo na galeria a seguir: