Roberto de Almeida discute as funções do cérebro humano na linguística (Foto: Cassiana Martins/ Famecos/ PUCRS)
Na segunda noite do XII Seminário Internacional de Comunicação (Seicom), o conceito de interdisciplinaridade foi demonstrado quando Carlos Gerbase, coordenador geral do evento, apresentou Ivan Izquierdo e Roberto de Almeida para o público. Na conferência, os pesquisadores da área da saúde e da linguística, respectivamente, falaram sobre as perspectivas do funcionamento do cérebro e da influência da comunicação sobre ele.
Roberto de Almeida, formado em Jornalismo pela Famecos e pesquisador do departamento de psicologia na Concordia University, no Canadá, discutiu as funções do cérebro na comunicação lingüística, apresentando o conceito de arquitetura cognitiva – um “manual do usuário” do cérebro. O professor mostrou, a partir de resultados de experimentos, alternativas para a interpretação do comportamento cognitivo humano focando na dialética entre representação e processos mentais. O primeiro seriam os códigos, enquanto o segundo seria a criação de relações entre as representações, assim como acontece em um computador.
Segundo Almeida, para compreender o funcionamento do cérebro, é preciso pensar no todo que o compõe. “Não basta saber a arquitetura física da máquina, nem as funções input e output em resposta aos estímulos. É preciso entender a computação interna”, afirmou. E os estímulos aos quais o professor se referiu foram exemplificados pela apresentação de um experimento que mostrou as diferenças dos padrões de comunicação e construção frasal de portadores do mal de Alzheimer para indivíduos que não sofrem com a doença. De acordo com a pesquisa, uma palavra alterada em uma frase pode ativar em maior escala uma determinada área do cérebro.
Coordenador do Centro de Memória da PUCRS, Ivan Izquierdo trouxe sua visão a respeito da relação homem-máquina. Ele tratou a linguagem como uma tecnologia reguladora, que interfere em todos os níveis do pensamento humano. “O ser humano aprende, desde cedo, a vocalizar em forma de palavras e fica dependente desta tecnologia”, disse. E o significado das palavras, de acordo com Izquierdo, pode mudar o curso da história.
Tudo depende de como a informação é recebida. Conforme apontou o pesquisador, uma palavra, ou a forma como é pronunciada, além do estado em que o ser humano se encontra, pode mudar todo o pensamento de uma pessoa. “E uma palavra que se altere em uma pergunta muda completamente a memória de um acontecimento”, completou.
É assim, para Izquierdo, que se formam os mitos: através de diferentes contextos e da forma como as informações de adaptam a ele. “As palavras não querem dizer o que está escrito. Elas podem significar qualquer coisa. E este significado pode mudar tudo”, finalizou.