Da esquerda para a direita, João Carlos Bona Garcia, Gilberto Lima, Marco Antonio Villalobos e o Juremir Machado. (Foto: Júlia Brasil)
O auditório da Faculdade de Comunicação Social (Famecos) da PUCRS sediou, nessa quarta-feira (24), a exposição Diálogos com a Memória, com o tema “Chile, anos 70: corporações, campanha, governo e morte de um presidente democrata”. O evento foi proposto pelo Núcleo de Comunicação e Memória Institucional, o qual proporcionou o debate entre os expositores João Carlos Bona Garcia, Gilberto Lima, Marco Antonio Villalobos (Marquinho) e Juremir Machado.
O debate, conduzido por Marquinho, transitou entre o passado e o presente. Bona Garcia trouxe relatos históricos sobre o golpe militar de Augusto Pinochet contra o presidente Salvador Allende, no Chile, enquanto Juremir comparava os fatos apresentados com o momento político atual do Brasil. Lima trouxe à discussão um questionamento pertinente: “Os militares aprenderam? O Brasil caminha para uma divisão igual à do Chile?”. Segundo o professor, as coisas se repetem e ele não ficaria espantado caso acontecesse um novo golpe militar no Brasil: “Não acreditava no impeachment da Dilma, não acreditava na deterioração tão rápida de Temer e não acredito nos militares, mas pode acontecer”. Compartilhando o mesmo pensamento, Bona Garcia afirma que ainda existe a possibilidade de os militares chegarem ao poder. “Já errei no Chile, não da para desacreditar”, diz.
Fundador do Partido Operário Comunista (POC) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), ambos em Passo Fundo, Bona Garcia comenta sobre a época em que viveu no Chile e destaca seu encontro com o ex-presidente do país. “Allende deu permissão para que nós, brasileiros, morássemos no Chile. Ele exigiu apenas que conseguíssemos emprego e documentos”, conta. Primeiro ex-preso político que assumiu o cargo de Juiz do Tribunal de Justiça Militar, o ativista de esquerda ocupou o cargo de diretor do banco Banrisul e criou o setor de memórias, que funciona até hoje. Além disso, trabalhou nos Correios com o objetivo de reunir documentos memoriais, especialmente do Departamento de Ordem e Política Social (DOPS). Passando por Argentina, Argélia e França, Bona Garcia, por conta de sua militância, residiu em diversos países e revela uma curiosa história de quando tentou se mudar para a Alemanha, dividida, na época, entre Ocidental e Oriental. “Sem documentos, eu batia nas embaixadas. As duas alemanhas, inclusive, também negaram o meu pedido. Tentei ir para a Alemenha do Oriente, eles eram comunistas, mas não me deixaram viver lá porque eu não tinha afiliação com o Partido Comunista do Brasil (PCB). Depois tentei ir para a Alemanha do Ocidente, porém eles não me deixaram entrar porque eu era comunista”, brinca.
A palestra foi encerrada com o documentário “Harald Edelstam, o Nome da Esperança”, que apresenta a história do então embaixador sueco no Chile, em 1973, que, após a queda do presidente Allende, salvou diversos presos políticos no país.